Santuário do Caraça em Catas Altas – MG

Santuário do Caraça - Fotos de Marco André Briones.
Santuário do Caraça. Fotos de Marco André Briones

“Nas minhas viagens, não vi colégio mais bem organizado. Fiquei satisfeitíssimo com o Caraça. Só o Caraça paga toda a viagem à Minas”
Pedro II, em seu diário, comentando suas viagens por Minas Gerais.

Uma torre de igreja bem ao longe, no meio do nada. Seria uma miragem? Essa é a visão que temos ao nos aproximarmos do Santuário do Caraça. À medida que nos aproximamos, começamos a ver toda a grandiosidade da obra, que se espalha em meio à uma linda reserva florestal. Desde o primeiro contato, o Caraça, como é mais conhecido, nos inspira e acalma, e também nos convida a meditar sobre a vida e os caminhos que nos conduziram até esse local tão belo e isolado.

Tive a oportunidade de conhecer o Caraça em dezembro de 2013 durante uma viagem que fiz com meu irmão por todo o circuito das cidades históricas de Minas Gerais. Sem dúvida alguma, o Caraça foi um dos lugares mais marcantes de todo o passeio.

O Santuário do Caraça está situado entre os municípios de Santa Bárbara e Catas Altas, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. O Caraça é uma enorme área de 11.000 hectares, que combina religião, história, natureza e cultura. Além disso, a área inclui uma grande reserva natural, o Parque Nacional do Caraça, além do complexo religioso. Atualmente, recebe mais de 70.000 visitantes ao ano.

O Santuário

Santuário do Caraça
Entrada Principal

A história do Santuário do Caraça se iniciou em torno de 1770, quando o Irmão Lourenço de Nossa Senhora comprou a sesmaria do Caraça, onde decidiu construir uma capela barroca dedicada à Nossa Senhora Mãe dos Homens e uma casa de hospedagem de peregrinos na região. Quatro anos depois, o Santuário do Caraça foi inaugurado para acolher peregrinos.

O Irmão Lourenço faleceu com 95 anos, deixando sua fundação em herança ao rei D. João VI, que posteriormente entregou as terras à Congregação da Missão. O Irmão Lourenço foi sepultado dentro da capela que ele construiu, rezando para que Deus realizasse o seu sonho de ver o Caraça repleto de missionários. No entanto, eles só chegaram sete meses após sua morte, quando fundaram o Colégio do Caraça.

Com o passar dos anos, o local que foi originalmente construído para ser a hospedaria acabou se tornando o colégio para meninos, o que acabou dando origem à um dos mais tradicionais colégios do Brasil. Entre 1820 e 1868, estima-se que mais de 11.000 meninos tenham estudado ali, sob a orientação severa dos padres e professores.

Em 1876, o Padre Cavelin demoliu a capela barroca e erigiu em seu lugar uma igreja em estilo neo-gótico. A igreja do Caraça foi a primeira do estilo no Brasil, tendo sido construída antes mesmo da famosa Catedral de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens foi inaugurada em 1883.  Ela é composta basicamente de materiais locais, tais como pedra-sabão, mármore e quartzito. Possui também lindos vitrais franceses do século XIX e um órgão de fole. Além disso, foi construída sem mão-de-obra escrava, pois foram basicamente imigrantes portugueses e espanhóis que a erigiram.

Visitantes ilustres

O Caraça atraiu a visita dos dois únicos Imperadores do Brasil. D. Pedro I esteve no local para se aconselhar com o padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro, ilustre educador em Portugal. Já D. Pedro II visitou o Caraça a fim de conhecer a natureza local, o colégio e as montanhas mineiras. Até hoje há uma pedra no calçamento talhada com os dizeres “PII – 1881”, marcando o local onde o Imperador escorregou e caiu.

Devido à rigorosidade do colégio do Caraça, o Imperador Dom Pedro I só foi saudado à noite na Igreja. Nem a figura mais importante do Brasil na época foi capaz de interromper as aulas do colégio que formou dois ex-presidentes (Artur Bernardes e Afonso Pena), 17 governadores do estado e mais de 100 deputados e senadores que fizeram história tanto no Brasil quanto em Minas Gerais.

O Caraça possui inúmeras relíquias religiosas. A mais importante é o corpo de um soldado romano martirizado, que traz o nome de São Pio Mártir. Seu corpo foi encontrado em Roma, na Catacumba de Santa Ciríaca. Seus ossos foram revestidos de cera e foi feito um altar especial, dentro do qual se vê seu corpo dentro de um relicário de madeira e vidro. Há também no local seis obras do grande mestre Ataíde, um dos maiores expoentes do barroco mineiro. Entre suas obras expostas no local, se encontra a sua versão da “Santa Ceia”.

Museu

O incêndio de 28 de maio de 1968 deu um fim às atividades educacionais do colégio do Caraça. Após o incêndio de 1968, o antigo colégio foi parcialmente restaurado para abrigar o museu que abriga lembranças de tempos passados. Grande parte dos livros da biblioteca foram resgatados do incêndio e estão atualmente disponíveis na nova biblioteca, situada acima do museu. A biblioteca possui um acervo de mais de 1400 livros dos séculos XVI, XVII e XVIII. No entanto, o Caraça nunca mais retomou suas atividades de seminário ou escola.

Via Crucis

Os peregrinos que visitam o Caraça podem conhecer uma “Via Crucis”, existente no local, onde encontramos lindas esculturas de Jesus crucificado, Maria e São João. Podemos também visitar as catacumbas, onde estão enterrados os religiosos que moraram no Caraça, assim como alguns alunos ilustres.

O Caraça também está associado à uma triste lembrança, a do acidente aéreo que ocorreu em 1982, quando um avião caiu na Serra do Caraça, matando todos os seus passageiros e tripulantes. Seus destroços se encontram até hoje no local, em meio à mata fechada.

Em 1982, o irmão Thomas começou a deixar no adro da igreja uma vasilha com carne para os lobos guará da região, que viviam remexendo o lixo e atacando os galinheiros. Os lobos gostaram do “presente” e passaram a visitar o local diariamente, sempre em torno das 18:30h. As visitas dos lobos guará se tornaram uma tradição do local, atraindo muitos turistas que esperam ansiosamente a chegada dos lobos para vê-los de perto e fazerem muitas fotos, pois os animais parecem não se incomodar com a presença dos humanos nem dos flashes das câmeras e celulares.

Momentos inesquecíveis

Atualmente, podemos conhecer o Caraça como turistas, passando o dia no local, conhecendo todas as suas belezas naturais e arquitetônicas ou até mesmo como hóspedes, dormindo no hotel situado ao lado do santuário. O restaurante do hotel oferece refeições comunitárias e é muito procurado também pelos turistas. Muitos visitantes aproveitam o passeio para visitar a “Cascatinha” e a “Cascatona”, ambas dentro da área da reserva florestal. É necessário seguir uma trilha pela floresta até que se possa alcançá-las. A fauna e flora locais são muito ricas, permitindo que se possa descobrir vistas encantadoras e fazer fotos belíssimas.

Uma visita ao Caraça será um daqueles momentos dos quais você jamais se esquecerá, pois a sensação de se estar em meio à floresta, vendo uma igreja neo-gótica, com vista para a Serra do Caraça, é indescritível. Somente pode ser experimentada pessoalmente. Desta forma, não hesite em planejar sua visita ao Santuário do Caraça.

Para maiores informações, clique aqui para visitar o site oficial do Santuário do Caraça

Marco André Briones – [email protected]

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em dezembro de 2013.

Com agradecimentos especiais à Emiliana Fonseca

Bibliografia usada:

  • Caraça – Sua Igreja e outras construções – Padre José Tobias Zico C.M.
  • Caraça – Peregrinação, Cultura, Turismo – Padre José Tobias Zico C.M.
  • Santuário do Caraça, onde história e natureza andam juntas – Estado de São Paulo – 18/09/2018, – Bruna Tiussu.
  • Espaço Religioso e Espaço Turístico: Significações culturais e ambiguidades no Santuário do Caraça/MG – Denise Pereira e Alexandre de Pádua Carrieri.
  • Santuário do Caraça – Revista Sagarana.com.br – Cezar Felix

Para saber mais dicas de turismo cultural e histórico no Brasil e no mundo, acompanhe a coluna de Marco André Briones no portal Cidade&Cultura

Santuário do Caraça
Jardiins
Nossa Senhora das Graças na entrada da igreja
Serra do Caraça
Santuário do Caraça
Crucificação