Batatais, a surpreendente cidade paulista

Praça Cônego Joaquim Alves, Batatais – Fotos: Marco André Briones

Qual é a conexão entre o presidente Washington Luís, o pintor Cândido Portinari e o editor José Olympio? A cidade de Batatais.

Aparentemente sem grandes atrativos ou significância no cenário nacional, Batatais surpreende aqueles que a visitam e estudam um pouco sua história por ter feito parte da vida de três grandes personalidades brasileiras, mencionadas acima.

Os registros mais antigos que temos relativos à região onde se situa Batatais são do período entre 1594 e 1599, quando o desbravador e bandeirante Afonso Sardinha e seu filho homônimo atingiram as margens do rio Jeticaí, atualmente conhecido como Rio Grande, provavelmente tendo atravessado a região de Batatais, que era habitada pelos índios caiapós.

Afonso Sardinha e seu filho não foram os únicos bandeirantes de renome que passaram pela região. Bartolomeu Bueno da Silva, o famoso Anhanguera, também visitou a área onde se encontra a cidade atualmente. Ao buscar ouro em suas expedições pelo coração do Brasil, ele seguiu trilhas indígenas que o levaram até Vila Boa, em Goiás. Tais trilhas acabaram se tornando conhecidas por Caminho das Goaises, e atraiu muitos forasteiros após a descoberta de ouro em Goiás feita pelo Anhanguera.

Devido à tal descoberta, vários povoados, fazendas de gado e pousos  foram sendo estabelecidos ao longo desse caminho, pois era do interesse da administração colonial assegurar que tais terras permanecessem sob o domínio da coroa portuguesa. Dessa forma, em seus primórdios, Batatais foi um ponto de parada obrigatório de bandeirantes, tropeiros e viajantes em direção às minas de ouro de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Posteriormente, tal caminho passou a ser conhecido como “Caminho dos Batataes”.

Os campos da Paragem dos Batataes provavelmente eram extensas plantações de batatas, feitas pelos indígenas e descobertas pelos bandeirantes.

No entanto, a denominação Batatais surgiu pela primeira vez em documentos legais quando da doação de uma sesmaria com tal nome em 5 de agosto de 1728. No início do século XIX havia 15 posses de sesmarias na região, que atualmente se chama Batatais. Em 1815 o Arraial de Batatais foi elevado à categoria de Freguesia, através de uma ação do Príncipe Regente, D. João VI.

A Freguesia foi se desenvolvendo economicamente com o passar do tempo. Em um primeiro momento, sua principal atividade econômica foi a venda de toucinho de porco. Posteriormente, uma das maiores riquezas de Batatais se tornou o café, cuja cultura permanece até os dias de hoje.

A cidade também teve a honra de receber a visita do imperador D. Pedro II e da imperatriz Thereza Cristina, que estiveram no local em 25 de outubro de 1886. O motivo da visita foi a inauguração de um trecho da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação que levaria o café produzido localmente até o porto de Santos.

Batatais também recebeu uma grande leva de imigrantes italianos e espanhóis para trabalhar nas lavouras do café, substituindo a mão de obra escrava principalmente nas maiores fazendas da região: Prata e Macaúbas. Essa última era tão grande e importante que possuía até mesmo sua própria estação ferroviária, cinema, salão de bailes, banda de música, campo de futebol e alfaiataria.

Nesse ponto é que se interligam as histórias de Batatais e de Washington Luís. Nascido em Macaé, no estado do Rio de Janeiro, Washington Luís se formou em advocacia e se tornou promotor público na cidade de Barra Mansa, no interior do estado. Como o cargo era mal remunerado e ele não conseguia nenhuma transferência para um lugar melhor, aceitou o convite feito por seu amigo Joaquim Celidônio dos Reis Jr para trabalhar em seus escritório de advocacia, em Batatais, atendendo os processos que envolviam os interesses dos ricos e importantes proprietários das fazendas de café da região. Ao estudar as necessidades da região e solucionar vários problemas que afligiam a localidade, acabou se elegendo vereador, posição na qual se destacou e que acabou o levando à posição de Intendente Municipal, o que seria considerado atualmente como o cargo de prefeito de Batatais.

Após uma brilhante gestão, em que resolveu antigos problemas de saneamento da cidade, além de muitas outras melhorias por toda a cidade, acabou alçando o cargo de Presidente do Estado de São Paulo, o equivalente atualmente ao cargo de governador. Esta posição de destaque, além de sua competência e reconhecimento como ótimo gestor acabaram por levá-lo a Presidência da República, da qual foi o último presidente da “República Velha”, até ter sido deposto por Getúlio Vargas. Washington Luís foi também o autor da frase que até hoje consta do brasão da cidade de São Paulo, “Non Ducor Duco”, ou seja, “Não sou conduzido, conduzo.”

Um outro grande personagem, este nascido em Batatais, é o político Altino Arantes, que foi deputado estadual e presidente do Estado de São Paulo (cargo equivalente ao de governador) , além de ter sido um importante membro da Revolução Constitucionalista de 1932 e do Instituto Histórico e Geográfico, além de ter presidido a Academia Paulista de Letras.

A ligação entre Batatais e o grande pintor Cândido Portinari se deu através da Igreja Matriz da cidade.

Embora fosse comunista e ateu, o pintor, nascido na vizinha cidade de Brodowski, se sensibilizou quando foi convidado pelo povo de Batatais a retratar as 14 estações da Via Sacra de Jesus, de maneira simples e que pudesse ser compreendida pelo povo local. Ele afirmou que muitas das pessoas que ele mais estimava eram católicas, e que isso era uma coisa importante para elas. Desta forma, ele procuraria fazer um trabalho que lhes agradasse.

No entanto, Portinari não agradou apenas os seus amigos e familiares católicos, pois acabou criando um conjunto artístico extraordinário, que acabou sendo reconhecido nacionalmente por sua beleza. A família de José Martins de Barros pagou por sete quadros da Via Sacra de Portinari. Os outros sete quadros foram doados pelo próprio mestre à Igreja Matriz de Batatais, onde ele havia sido batizado.

Eu tive o privilégio de ver tal conjunto artístico maravilhoso de Batatais na Igreja Matriz, pois esse foi o motivo original que me levou a visitar a cidade, da qual eu levei uma ótima lembrança, não só devido à beleza e magnitude de tal conjunto, mas também por suas belas praças e casarões antigos preservados.

O famoso editor José Olympio nasceu em Batatais em 1902. Em 1931 conseguiu abrir sua livraria e editora, a Casa José Olympio Livraria e Editora, em São Paulo. Nas décadas de 1940 e 1950 se tornou o maior editor do país, publicando cerca de 2000 títulos, com 5000 edições, atingindo a espantosa cifra de 30 milhões de livros vendidos em 1980.

Sua influência foi enorme, pois descobriu, incentivou e publicou grandes autores como Manuel Bandeira, Rachel de Queiróz, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Orígenes Lessa, Lígia Fagundes Telles, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, entre outros mestres da literatura nacional, que acabaram se tornando seus amigos pessoais. Não se envolvia em questões políticas, o que lhe permitiu que editasse obras de Graciliano Ramos e Getúlio Vargas, que prendera Graciliano Ramos durante o período do Estado Novo. Ao final de sua vida, José Olympio ficou marcado na história do Brasil com um grande descobridor de talentos e o pai dos editores de livros do país. 

Atualmente Batatais é um dos 29 município paulistas considerados estâncias turísticas pelo Estado de São Paulo, principalmente devido ao fato de sediar um grandioso conjunto de obras do grande pintor Cândido Portinari.

Desta forma, se você é um amante da pintura de Portinari ou uma pessoa interessada na história dos presidentes do Brasil, como Washington Luís, Batatais é uma parada obrigatória e que merece ser visitada.

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Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones em março de 2016.

Bibliografia usada:

Batatais – A Cidade dos Mais Belos Jardins, de José Mauro Marinheiro Fernandes
A Freguezia dos Batataes – J. Machado Tambellini