Engenho Triunfo se destaca com turismo de experiência em Areia (PB)

Maria Júlia é um exemplo de superação e de constante inovação no turismo. Esposa, mãe e empresária, conseguiu criar um dos mais importantes complexos turísticos do Brasil, que une o Engenho Triunfo, Hotel Triunfo e o Engenho Cacau, uma fábrica de chocolate que teve seu início de produção no ano de 2022. No mês de setembro de 2023, Maria Júlia ganhou o prêmio de Turismo Internacional do Panamá e, agora, tem mais uma grande vitória como finalista do Prêmio Nacional do Turismo na categoria Mulheres Empreendedoras do Turismo.

Empreendedores de sucesso trazem em si uma característica bastante peculiar. Maria Júlia tem algo que inspira, além de uma simplicidade incrível. Quem visita o Engenho Triunfo vai ver na loja não apenas produtos do Engenho, mas de produtores locais, um espaço que colabora com o crescimento de todos. A visita ao Engenho faz com que você deseje permanecer durante todo o dia no espaço: todas as áreas são aconchegantes, preparadas e pensadas em receber o turista para uma experiência incrível. O aprendizado constante fez com que o Engenho Triunfo venha a ser esta grande referência do turismo em Areia.

“Muitas coisas no Engenho, cada espaço, foi pensado no turista que nos visita. O SEBRAE nos ajudou bastante em suas consultorias e tudo que um consultor nos falava eu, de imediato, fazia a adaptação. O nosso sucesso vem de um trabalho em família: meu esposo, eu e meus filhos, mas também buscamos aprender e o SEBRAE nos ajudou bastante”, comenta Maria Júlia.

A história do Engenho Triunfo, por Maria Júlia

A história do Triunfo é a história do sonho do meu marido que, por força do amor, passou também a ser o meu sonho. Começou quando éramos namorados e Antônio Augusto me dizia: “um dia eu vou ter um engenho para fazer a melhor cachaça de Areia”. Isto há mais de quarenta anos. Como eu adorava cachaça, decidi: “é com esse que eu quero casar”.

Passaram- se muitos anos até que, em 1994, ele recebeu uma herança de uma fazenda na região do Curimataú, vendeu essa propriedade por quinze mil reais, o que equivalia, na época, a quinze mil dólares. Investiu tudo em uma pequena moenda e um alambique. Entretanto, a promessa ainda não estava cumprida, pois como não era filho de “senhor de engenho”, e a única referência que ele tinha de cachaça era de um avô que faleceu quando ele tinha apenas quatro anos de idade, o meu marido não sabia fazer cachaça. Vale salientar, que até 1994, cachaça era bebida de pobre, produzida para o pobre e o dono do engenho tomava whisky.

Até 1994, não existia nenhum curso quer seja a nível técnico ou superior, ou ao menos, uma literatura, que o norteasse para que produzisse uma boa cachaça. Daí tomei muita cachaça ruim, pois como participante ativa desse sonho era eu quem provava. Até que surge o evento Bregareia na nossa cidade, vindo o Professor Fernando Valadares Novaes ministrar um curso de cachaça de qualidade, através do Sebrae e da Universidade. Antônio Augusto foi fazer o curso. Humildemente convidou o Professor durante o curso para vir conhecer o seu engenho. O professor foi taxativo: “Estava tudo errado”. Mas depois desse curso, aí sim, a promessa estava cumprida: passei a tomar uma boa cachaça.

Iniciamos o engarrafamento com garrafas tipo “pet”, e fizemos um grande estoque, pois não vendia nada. As máquinas eram todas inventadas por ele, o dinheiro que tinha havia sido investido na moenda e no alambique. Apareceram vários gerentes de banco oferecendo capital. Ele não aceitava. Dizia para mim: “Só quero trabalhar para você e os quatro meninos, não quero trabalhar para agência financeira”. A luta era grande. Engarrafávamos à noite eu, ele e os quatro filhos, depois de eu trabalhar 10 horas por dia lecionando história no Colégio Santa Rita, trabalhando como escrevente no Fórum Judicial da Comarca de Areia, e ainda como escrevente no Cartório de Registro Imobiliário da mesma Comarca. Ele trabalhava ainda mais: acordava quatro horas da manhã e, com pouquíssimos empregados, era quem fazia a cerca da propriedade, quem arava a terra em um trator, quem destilava a cachaça.

Tive a oportunidade de desempenhar na Justiça, o cargo de analista eleitoral. Era uma boa gratificação, maior do que o meu salário. Entretanto, era um cargo transitório de apenas dois anos. No primeiro ano, como não gastava nada desse dinheiro, consegui comprar uma casa na cidade. No outro ano, daria para comprar outra casa. Entretanto, decidimos eu e meu marido que iríamos investir na Triunfo e depois, a Triunfo iria nos dar outras casas. Aí compramos as garrafas de vidro e investimos no rótulo, que tem a referência da nossa Cidade, além de homenagear o nosso amigo João Carlos, já que a figura é um quadro do mesmo.

Só uma coisa estava decidido para nós dois: nunca mais eu queria ser analista eleitoral, pois durante pelo menos três meses da minha vida, eu saía de casa antes das sete e chegava depois das 21h30. Tínhamos quatro filhos e era a meu marido que ficava reservado o papel de ensinar as tarefas das crianças, levá-las ao médico, ao dentista e, ainda, resolver as brigas.

No dia 2 de julho de 2001, comecei a vender de bar em bar, a Triunfo e as pessoas perguntavam: “o que é isso?” E eu respondia: é a cachaça que o meu marido faz. Eles respondiam: “aqui não vende isso não, só se bebe brejeira (cachaça não engarrafada)”. E eu dizia: “claro, não tem, como é que vão pedir? Vou deixar um pacote e com quinze dias passo de novo”. Nos bares em que os donos ficaram com um pacote de Triunfo (seis garrafas de 300 ml), em quinze dias ficaram com dois. Quem tinha ficado com dois pacotes pedia quatro. Depois a gente já não conseguia dar conta do mercado.

Procuramos comprar máquinas. Tudo era muito caro e, para cada dificuldade que surgia, o meu marido, com a persistência, inteligência e garra de quem sabe aonde quer chegar, inventava mais uma máquina. O moinho de carne da mãe dele transformou-se em máquina de tampar. A peça de bico de porco beber água nas pocilgas transformou-se em envasadora. A centrífuga de minha irmã transformou-se em máquina de polir garrafas. O pote de doce da minha mãe transformou-se em um lindo filtro de cachaça. A mesa de um frigorífico que nunca funcionou transformou-se em máquina de esterilizar garrafas.

Em 2006 deixei de trabalhar na Justiça e passei a trabalhar com a produção associada ao Turismo. Compramos novos alambiques, novas moendas, compramos terras, mudamos até de endereço, construímos um parque para visitação, com acessibilidade, calçamento, pedalinhos, passeios de jipe para contemplação dentro da propriedade e tudo isto com todo o envolvimento da família, pois cada filho cuida de um setor, podendo, com os seus salários, exercitar sua criatividade e empreender para o bem de todos, pois é com a produção associada ao turismo que vislumbro cada vez mais desenvolver o nosso território, beneficiando a todos aqueles que desejam trabalhar e usufruir de uma vida melhor. 

Contamos com 66 empregos diretos e mais de mil empregos indiretos. O nosso filho mais velho, hoje, é Químico Industrial, Engenheiro Químico, Mestre Engenharia Química, Engenheiro da Segurança do Trabalho, conseguindo transformar a “cachaça de cabeça”, que antes se jogava fora, por conta do alto teor de cobre e grau alcoólico bastante elevado, em álcool combustível, além de ser o responsável pela premiação das nossas cachaças que, este ano, conquistaram várias medalhas nos concursos mais respeitados do país, chegando ao Duplo Ouro com a Cachaça Jaqueira em concurso internacional de Bruxelas.

Na pandemia, suspendeu a produção do álcool combustível e passou a produzir o álcool 70, abastecendo o Hospital Municipal de nossa Cidade e mais 14 cidades do Brejo Paraibano e uma cidade do Rio Grande do Norte.

O nosso segundo filho é Bacharel em Agroindústria e Cachacier. Renata, nossa única filha, terminou Administração, fez especialização em marketing e hoje é responsável por nossas redes sociais, residindo na Irlanda. Artur é administrador e Bacharel em Direito, atuando com a sua produção de uvas associada ao turismo, passeio de jipe e atuando igualmente na parte jurídica da empresa. Nossa nora Juliana construiu uma fábrica de chocolates dentro do Parque Triunfo, inovando com a marca “Engenho Cacau”.  

A Triunfo,  hoje, deixou de ser apenas um caso de amor, mas transformou-se em uma empresa responsável, que contribui diretamente com o Estado e nossa cidade, através de cargas tributárias pesadas, no incentivo da produção da cana de açúcar e no turismo consciente, responsável e sustentável, pagando tratamento odontológico de todos os funcionários, erradicado o analfabetismo em nossa empresa em 2010, contribuindo decisivamente com a cultura local, patrocinando festivais de música, de flores, gastronômicos, de artes plásticas em nossa cidade e região.

Embora seja uma empresa familiar, temos a consciência de que já não somos donos dela, mas empregados da Triunfo, e esta não pode quebrar, pois o nosso sonho se multiplicou e agora é responsável pela comida posta na mesa de muitas pessoas em nossa região e, mais ainda: é responsável pela esperança brotada no coração de quem nos visita de que é possível realizar um sonho, através da determinação, da garra e da coragem de amar ao ponto de focar em estudar, estudar , estudar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. E gastar sempre menos do que se ganha. Não posso deixar de registrar que a Cachaça Triunfo mudou a vida da minha família, mas o turismo, mudou a vida da minha cidade. Até 2006, Areia (PB), produzia riqueza através da produção da cana de açúcar, funcionário público e um pequeno comércio. Ninguém faz um destino sozinho. Outras pessoas abraçaram nossa ideia e hoje somos referência em turismo de experiência, como destino responsável, sustentável e regenerativo.

Serviço

Engenho Triunfo

Aberto de segunda-feira à sábado das 09h às 11h30 e das 13h30 às 17h e aos domingos das 9h às 11h30

Contato para visita: (83) 99981-7728

Mais informações: www.instagram.com/engenhotriunfooficial  

Fotos por: Sidnésio Moura