De Maria Callas à Semana de 22, passando pelos corpos artísticos idealizados por Mário de Andrade, relembre momentos marcantes da história do Theatro Municipal, que completa 114 anos como símbolo cultural e político de São Paulo.
O Theatro Municipal de São Paulo celebra 114 anos neste dia 12 de setembro. Inaugurado em 1911, o espaço é um dos principais símbolos culturais da cidade e do país. Em sua cerimônia de abertura, o Theatro reuniu ilustres convidados e uma multidão estimada em 20 mil pessoas nas imediações. Na época, chamou atenção por sua iluminação elétrica, sendo o primeiro prédio da cidade totalmente abastecido por esse sistema.
Desde então, o Theatro Municipal se consolidou como palco de grandes nomes da música, dança e teatro. Ao longo das décadas, recebeu companhias e artistas que marcaram a história das artes no século 20, entre Maria Callas, também foi cenário da Semana de Arte Moderna, e tantos outros momentos históricos.
1. Corpos Artísticos de Mário de Andrade
Quando assumiu a direção do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, em 1935, buscou democratizar o acesso à arte e valorizar as manifestações culturais brasileiras. Nesse contexto, criou o Coral Paulistano, com o objetivo de difundir a música coral em língua portuguesa, e também o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, voltado à música de câmara.
2. Temporada de 1951
A temporada lírica do Theatro Municipal de 1951 trazia cantores de grande projeção internacional: Maria Callas, Renata Tebaldi, Fedora Barbieri, Beniamino Gigli, Giuseppe Di Stefano, Gino Bechi, entre outros. Acometida por um mal-estar, Maria Callas foi substituída por Norina Greco, que recebeu grandes elogios.
3. Il Guarany (2023 e 2025)
A montagem contemporânea da ópera Il Guarany, em 2023 e remontada em 2025, foi um marco recente no debate sobre multiculturalismo e a arte lírica. A ópera O Guarani, produzida pelo Theatro Municipal em maio de 2023, também foi a vencedora do prestigioso prêmio da associação Ópera XXI na categoria “melhor produção de ópera latinoamericana”. A premiação é organizada pela associação representativa do setor lírico espanhol, composta por 25 teatros e festivais de ópera mais importantes da Espanha.
4. O Theatro Municipal como palco de manifestações populares
Ao longo das décadas, o Theatro Municipal de São Paulo se tornou um espaço simbólico de resistência e expressão política. Em 1968, o movimento Teatro na Rua contra a Censura reuniu artistas como Fernanda Montenegro, Tônia Carrero e Cacilda Becker nas escadarias do Theatro, em protesto contra a censura imposta pelo regime militar. Em 1978, foi palco do ato de lançamento do Movimento Negro Unificado. Já em 1984, durante o comício das Diretas Já, o prédio histórico foi cercado por uma multidão de mais de 1,5 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, tornando-se parte da paisagem de um dos momentos mais emblemáticos da redemocratização brasileira.
5. Semana de Arte Moderna de 1922
Em 1922, entre os dias 13 e 17 de fevereiro, o manifesto artístico-cultural reuniu diversas apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras, pintura e escultura, e palestras. Artistas consagrados como Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Oswald de Andrade, entre outros, trouxeram uma nova visão de arte para o país. O movimento, que deu origem ao Modernismo no Brasil, chocou grande parte da população e rompeu com a arte acadêmica ao trazer uma revolução estética e social.
O Theatro Municipal de São Paulo hoje
Desde 2021, sob a gestão da organização social Sustenidos, o Theatro Municipal de São Paulo passou por uma transformação significativa, com foco em uma gestão descentralizada, inovadora e comprometida com a diversidade, a casa consolidou uma programação artística robusta, que atingiu mais de 80% de ocupação média.
A gestão destacou-se pela valorização da produção nacional, pela criação e comissionamento de obras, como as óperas Café e Isolda/Tristão, e pela reformulação artística do Balé da Cidade, a reestruturação também incluiu a criação do Núcleo de Acervo e Pesquisa e programas como o Ópera Fora da Caixa, ampliando formatos e acessos à arte.
Projetos como o Municipal Circula e o programa de Jovens Bolsistas levam arte e formação profissional às periferias e fomentam o surgimento de novos públicos e criadores. O Theatro também investe na valorização de seus bastidores por meio da Central Técnica de Produções Artísticas, hoje aberta à visitação e integrada à política de memória e sustentabilidade do Complexo Theatro Municipal.
Texto por agência e edição de Rebeca Dias