Bandeirantes, em Minas Gerais, um Tercinho de Luz

Distrito de Bandeirantes, Mariana-MG Fotos: Isabela Drumond Fonseca

Foi assim que a lendária professora Hebe Rôla alcunhou o distrito de Mariana, chamado de Bandeirantes por uns, e de Ribeirão do Carmo por outros, especialmente pelos moradores mais antigos. Fato é que Bandeirantes (prefiro esse nome, ou “Band” para os mais íntimos), está cravado nas montanhas mineiras e é margeado pelo sofrido Rio do Carmo.

Como primeiro texto desta coluna, fez sentido voltar às minhas origens. O começo da minha história e o começo desta coluna se fundiram em um único lugar: Bandeirantes. Meus avós construíram a sua primeira casa neste distrito. Construíram, literalmente. Naquela época, contratar pedreiros e mestres de obra era um luxo de qual poucos podiam gozar. Neste mesmo Rio do Carmo, hoje sofrido, outrora rico e preservado, minha avó, Rosaura, tirava ouro de aluvião com sua bateia, enquanto meu pai e meus tios e tias brincavam em sua margem ou dormiam em um cesto. Esta atividade era parte do sustento da minha família, e também sustento de todo um Estado que leva o seu principal recurso no nome, Minas Gerais.

Bandeirantes é um distrito dotado de apenas uma rua, que vai mudando de nome ao longo do percurso, duas igrejinhas históricas, uma escola, um campo de futebol (é claro!) e alguns botequins (claro também, estamos em Minas!), onde os moradores e visitantes passam horas contemplando o verde/amarelo das folhas das árvores na companhia de uma cervejinha gelada ou de uma pinguinha ‘marvada’ curtida com alguma erva ou madeira. Certamente este distrito de Mariana tem mais história que os moradores dos recém construídos condomínios que cortam as montanhas da região, podem imaginar. E o tercinho de luz? Bom, quem avista Bandeirantes, com sua única rua, da BR 356 à noite jura ver semelhança entre a distribuição das luzes do lugarejo com as contas de um terço iluminado.

E, tratando-se de religiosidade, assim que chegamos a Bandeirantes, avistamos à esquerda, bem no alto de um morro, a solitária capela de Santa Tereza D’Ávila. Construção do século XVIII reformada no final dos anos 90, e que traz na simplicidade do seu chão de pedra e nos bancos de madeira maciça, a herança da devoção, tradicional na cultura do interior de Minas Gerais.

Mais à diante, está a igreja de São Sebastião, construção também do século XVIII, um pouco mais imponente e maior que a capela de Santa Tereza, que guarda os santos barrocos em seu interior e festas populares do seu padroeiro em seu adro. A igreja, atualmente fechada para reformas, foi testemunha, por séculos, de casamentos, batizados e procissões.

Entre as duas igrejinhas, está a recém reformada estação de trem, também histórica, e que guarda lembranças do passado em que  pessoas e mercadorias eram transportadas pelos trilhos de ferro por todo o estado, como poetizou o mineiro Carlos Drummond de Andrade: “O maior trem do mundo / Transporta a coisa mínima do mundo”. Na rosada estação ferroviária de Bandeirantes, atualmente funciona um centro educacional para crianças do ensino fundamental.

Como mencionei no início da nossa viagem à Bandeirantes, este é um lugar de muitas histórias, que se misturam inclusive com a história da Democracia Brasileira. Sim! Bandeirantes foi berço de um ex-vice Presidente, acredite!

Em uma casa histórica (hoje verde e branca) nasceu em 1901 o ex-vice Presidente do Brasil, Pedro Aleixo. Ele foi advogado, jornalista, professor, político, e o 16 º vice-Presidente do Brasil entre 1967 e 1969. Além disso, foi deputado estadual, deputado federal e ministro da Educação no governo do presidente Castelo Branco. Pedro Aleixo faleceu em 1975, aos 73 anos, em Belo Horizonte.

Atualmente, na casa onde nasceu Pedro Aleixo, funciona um pequeno museu, e é utilizada pela população local para atividades comunitárias e culturais.

Nos despedimos dessa viagem a Bandeirantes com um convite a seguirmos viagem rumo a outros destinos, pouco conhecidos, localizados essencialmente no interior do nosso imenso Brasil, e que guardam personagens e histórias que merecem ser conhecidas e compartilhadas.

Seguiremos para a próxima parada, percorrendo territórios geográficos e humanos, pouco conhecidos e seguindo caminhos da vida (da minha e de outros). Vamos juntos!