Danças a dois, a beleza das danças de salão

Convidei a professora Leticia Navarro para falar sobre danças de salão . Há 8 anos professora de danças a dois e pesquisadora em consciência corporal e educação somática Técnica em dança formada pela NAE – Núcleo de Arte e Educação. Também tem especialização em danças de salão como o CARDAS- Curso de Aperfeiçoamento e Reciclagem para professores de Dança de Salão, estudos em PNL na didática da dança de salão, capacitação profissional em Forró e estudos em técnicas somáticas aplicadas a dança. Pós-graduada em Dança e Consciência Corporal pela FMU.

Por Letícia Navarro

Afinal do que estamos falando? Quando você pensa em danças de salão qual a primeira imagem que vem à cabeça? Valsa? Salsa? Um casal de velhinhos? Afinal, de quais danças estamos falando? As danças de salão correspondem às danças a dois, onde duas pessoas formam um par e trocam energia, combinações e passos na melodia ou ritmo da música. Sim, pensar em valsa faz todo sentido, a partir do momento que podemos encontrar nos registros a valsa como um ponto de partida para as danças a dois aqui no nosso continente. As danças a dois, ou danças de salão, passaram por muitas influências e transformações culturais ao longo da história, porém, podemos encontrar características que correspondem as raízes de cada dança. Na América Latina, por exemplo, cada uma dessas danças tem influências culturais de cada região em que se encontra, considerando que uma das regiões pode ser o local de origem, conforme foi se espalhando, as culturas foram se misturando, tanto na forma de nomear os passos e nas formas de ensinar, quanto nas variações de estilos de se executar um determinado movimento. Um das características que diferencia as danças de salão, estão relacionadas a condução e resposta, onde cada pessoa da dupla assume um dos papéis, e através de um conjunto de ações como um abraço de dança, realização de passos (códigos), pontos de contato estratégicos, troca de energia e olhares, a dupla realiza sequencias improvisadas de movimentações, dentro do universo de cada ritmo musical. Aqui no Brasil, as danças a dois são consideradas parte da cultura popular, durante muito tempo foi ensinada por quem aprendeu com alguém que sabia, até ganhar uma pequena formalização em escolas de danças. Ainda assim, existem algumas danças a dois que não são ensinadas em escolas, permaneceram nos locais onde são praticadas. E as escolas de danças de salão são consideradas ensino informal, e fazem parte de atividades de lazer.

Dança de Salão X Dança Esportiva

Além das danças a dois, como uma forma de lazer e cultura, existem as competições, que foram criadas para gerar dinheiro para os competidores e reconhecimento. O movimento da Dança Esportiva é de origem inglesa, e foi ganhando espaço em vários países do mundo. Aqui no Brasil ainda é um movimento pequeno e poucos são os dançarinos que se tornam atletas dessas competições, por inúmeras razões, desde escassez de treinadores qualificados, investimento alto em figurinos e viagens, exigência de tempo de treino acima de 8 horas por dia, entre outros. A dança esportiva é uma competição levada muito a sério por seus atletas do mundo todo, e aqui no Brasil essa cultura de esportes é pouco disseminada, pouco apoiada quando comparamos com outros países. Afinal qual a diferença? Está em vários detalhes. Apesar da Dança Esportiva ser executada por uma dupla, os passos realizados, os ritmos das músicas, o giro do salão, os figurinos, a pontuação, a precisão, leveza entre outros, são cobrados de maneira certeira. Para que a competição seja passível de contar com pontos, os movimentos que devem ser executados, os figurinos, entre outros critérios estão inseridos em regras, assim cada dupla deve obedecer às regras daquela competição. Existe uma associação que cuida de tudo isso. Quando falamos em danças de salão, o improviso é uma das características mais fortes. Como assim? Existem passos, escolas, professores, o que significa o improviso? Sim, existem passos e maneiras de ensiná-los, existe a condução e resposta, que também aprendemos na escola de dança, os passos são como códigos, onde cada aluno sabe os caminhos, mas na hora de dançar não existe uma combinação pré-determinada, cada dupla pode improvisar utilizando os códigos (passos) de maneiras diferentes. Isso é uma das características das danças a dois que encanta quem assiste e quem dança. Existem sim movimentos que são mais comuns, que estão mais em alta, que são considerados mais charmosos e que aqueles que são base, chave para determinada dança. O modo como vão acontecer as sequencias de movimentos é que ganha esse tom de improviso, fazendo assim a dança parecer sempre criativa e inesperada, tanto por quem assiste, quanto por quem executa. As competições que são realizadas dentro do universo das danças de salão contém outros tipos de critérios e regras, que são próprias da realidade de cada dança, por exemplo, existe um evento gigante de samba de gafieira que acontece uma vez por ano, reúne competidores do Brasil todo, no Rio de Janeiro, para uma competição que tem suas próprias regras, conhecido como Gafieira Brasil. O forró também tem uma competição que reúne competidores do Brasil todo, uma vez por ano em São Paulo, chamado de Copa Forró. Ambas têm suas próprias regras, premiações, aulas, bailes, e reconhecimento de profissionais de suas respectivas áreas. Contudo são realidades bem diferentes entre danças de salão e dança esportiva.

Em São Paulo…

Como funciona aqui em São Paulo? Aqui em São Paulo temos uma grande oferta de escolas, profissionais, eventos, congressos, competições e nichos que podem ser atendidos com essas danças. Além de um espaço social, que gera interação, troca e amizades, pode ajudar pessoas que se sentem sozinhas ou queiram aprimorar movimentos corporais, pois as danças de salão também podem ser vista como um produto diferenciado. As danças de salão podem ser adquiridas como forma de aulas para entretenimento, para aprender a danças em bailes coletivos, aulas coletivas ou particulares, como coreografia para datas especiais, ou ainda contratar um personal dancer para dançar exclusivamente com você a noite toda no seu baile preferido.

Os bailes de dança são realizados de maneira geral a noite, em locais específicos para esse público, além disso, existem bailes que podem atender apenas uma modalidade, como por exemplo, baile só de samba de gafieira ou de só de forró ou só de zouk, e por aí vai. Em São Paulo, existem salões específicos para cada um, e alguns onde misturam tudo. O mais interessante é que as idades são muito diversificadas, no mesmo baile ou sala de aula você consegue encontrar pessoas na faixa etária entre 20 a 65 anos, e o que importa é o como você dança e se comporta nos salões. Algumas pessoas entendem que dançar com o corpo colado a outra pessoa pode soar um pouco estranho, mas na verdade quem entra para as danças a dois sabe que dançar na pista, fazer aulas ou mesmo dançar com um personal dancer, correspondem apenas ao entretenimento da dança. Se acontecer de surgir interesses para além da dança, devem ser comunicados por conversas nas áreas de convívio, áreas comuns da escola ou locais de baile.

Referências para saber mais: FILHO, Rubens Pantano; OLIVEIRA, Rodrigo de. O Baile – história, didática e técnicas de danças de salão. Editora Vitória, 2010. MAIA, Maria Aparecida Coimbra; PEREIRA, Vanildo Rodrigues. Dança de Salão: Uma alternativa para o desenvolvimento motor no ensino fundamental. Phorte Editora LTDA, 2010. PERNA, Marco Antonio. 200 Anos de dança de salão no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Amaragão Edições de Periódicos, 2011.

Coluna de Symone Coelho