Vale do Café: uma viagem pelo Brasil Império

Localizada no Vale do Paraíba Sul, no Rio de Janeiro, a região turística do Vale do Café conta com um dos roteiros históricos mais charmosos do país. Diversos municípios e alguns distritos preservam e enaltecem toda a memória e cultura do Brasil Imperial.

Foto por Carolina Berlato

Durante o século XIX, o café foi a principal fonte de renda do Brasil, o que lhe rendeu a liderança na produção e exportação do produto. Para se ter uma ideia, aqui era produzido cerca de 75% do café consumido mundialmente.

Durante sete décadas, foram criadas 300 fazendas, das quais 231 ainda são consideradas patrimônio cultural e histórico. Além disso, ao longo desses anos, o Brasil se desenvolveu economicamente e investiu em obras de infraestrutura com a renda obtida por meio das vendas do café.

Infelizmente, por muito tempo o Vale do Paraíba ficou marcado como uma região falida, em consequência do uso excessivo das terras que ficaram inférteis, bem como a sanção da Lei Áurea, que acabou com a mão de obra escrava. Os “Barões do Café” então se viram endividados com os bancos. Durante esse período, muitas fazendas foram hipotecadas e abandonadas. Hoje, os atuais proprietários das fazendas com apoio do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do Sebrae, do Instituto Preservale e do Conciclo (Conselho de Turismo da Região do Vale do Café) têm unido forças para resgatar e manter parte desse legado.

Com seu potencial turístico voltado para história e cultura, as cidades do Vale do Café oferecem a possibilidade de uma viagem ao passado. Conheça um dos roteiros mais charmosos e importantes do Sul Fluminense.

Rio das Flores

Fazenda União preserva relíquias luxuosas

Foto por Diego Mendes

Com pouco mais de dez mil habitantes, Rio das Flores é um dos municípios que luta para preservar a memória do Brasil Imperial. Comece seu roteiro pela Fazenda União, antigo casarão comercial do século XIX, onde eram feitas as negociações de café e de gado.

Com uma extensa história, a fazenda passou pelas mãos de diversos donos, como o Barão do Rio Preto, Camilo Bernardino Fraga e sua esposa Luiza Vieira da Cunha e Fraga, entre outros. Hoje, a casa sede está completamente restaurada e conta com um visual impecável, além de remontar toda a nobreza da aristocracia do Brasil Império.

Foto por Divulgação

Com mais de 1000 m², o casarão de 1836, possui 80% da construção original que se encontra conservada com mobiliário original e peças que foram recuperadas em antiquários pela região do Vale do Paraíba.

A fazenda oferece visitas guiadas com um historiador que explora todos os cômodos da casa e conduz os visitantes através de uma verdadeira aula sobre o período e histórias dos objetos expostos ali, em especial, a belíssima coleção de pratos brasonados – a terceira maior do mundo – que conta com nomes do Duque de Caxias, Ana Amélia, Serviços prestados pelo exército durante a “Independência ou Morte” e Família Imperial.

Foto por Carolina Berlato

Para aqueles que desejarem estender a visita, a Fazenda União oferece 28 luxuosas acomodações, divididas em cinco categorias: Suítes Real, Imperiais, dos Viscondes, dos Barões e dos Quilombos. Todas as acompanham o estilo original da casa e receberam um toque moderno que contrasta com o tradicional.

A gastronomia merece um destaque a parte. As iguarias são preparadas em um autêntico fogão à lenha e servidas em diferentes ambientes, seja na varanda do casarão ou na sala de jantar do Visconde.

Foto por Divulgação

Cachaçaria Werneck

Através de um projeto sustentável, a Cachaçaria Werneck tem levado o nome do município de Rio das Flores e da região do Vale do Café para diversos cantos do país e até mesmo para fora dele, através de premiações nacionais e internacionais.

Foto por Carolina Berlato

A família Werneck tem estado no Brasil há mais de três séculos e foi nessa parte do Rio de Janeiro que se estabeleceram e criaram raízes. Com a ideia de resgatar as origens familiares, o casal Cilene e Eli Werneck idealizaram um projeto sustentável, após adquirirem um terreno na cidade, onde hoje é o Sítio Werneck.

Juntos, eles iniciaram uma recuperação da Mata Atlântica em 50% de seu território e implantaram um manejo orgânico de cana, milho, feijão, legumes e frutas variadas. A partir disso, introduziram uma destilaria.

Foto por Carolina Berlato

Com cerca de 10 a 12 mil litros produzidos anualmente, através da receita de Cilene e da análise sensorial de Eli, a Cachaçaria Werneck tem se consolidado como uma das melhores marcas de destilados e continua com o enfoque na qualidade do produto. As visitas são gratuitas e acompanhadas por Eli, que faz questão de mostrar todas as etapas de preparo das bebidas e ainda oferece degustação de seus melhores destilados.

Vassouras

Considerada a “Princesinha do Café”, Vassouras é detentora de um riquíssimo legado histórico e cultural. Tombada como patrimônio pelo IPHAN, em 1958, todo o conjunto da cidade originou-se a partir do capital gerado pelas fazendas cafeeiras, que influenciaram na construção de casarões e edifícios remanescentes. Com charme de cidadezinha do interior e dinâmica de cidade universitária, Vassouras é capaz de transportar seus visitantes para uma época distante e ainda assim atual.

Foto por Diego Mendes

Para conhecer a cidade, o melhor caminho é pela Praça Barão do Campo Belo, marco do centro histórico.  Projetada pelo arquiteto espanhol Joaquim Soto Garcia de La Veja, o seu entorno foi construído para servir como principal fonte de água para os moradores.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição está no cume da praça. Construída em 1828, pelo Barão de Aiurucoca, ainda possui traços do estilo neoclássico e abriga belos painéis, esculturas e pinturas de personalidades famosas na região.

Ao lado da igreja está o Palacete Barão de Itambé, um prédio que conta com diversas pinturas parietais do artista José Maria Villaronga e atualmente funciona como a Biblioteca Municipal Mauricio de Lacerda.

Também localizado no centro, o Centro Cultural Cazuza preserva a memória e relação de Cazuza e família com a cidade. Inaugurado em 2018, o espaço foi reformado através de doações feitas pelo Iphan e por Lucinha Araújo, mãe do artista.

O antigo casarão de Francisco José Teixeira de Souza, o Barão de Itambé, data construção de 1845 e, além de ser tido residência até sua morte em 1871, foi também uma importante sede de clubes e colégios – um deles foi inaugurado por Maria Rangel de Araújo, avó de Cazuza.  A história da família do cantor não para por aí. Foi ali que Lucinha nasceu, há 81 anos, e depois conheceu seu marido, o produtor musical e empresário, João Araújo.

Em 1989, o espaço foi recuperado pela prefeitura que a transformou na Casa de Cultura Tancredo Neves, local que abrigava um rico acervo histórico, cultural e artístico da região.

Hoje, o Centro Cultural abriga quatro salas especiais para a exposição cultural de artistas da cidade. Uma delas é totalmente dedicada à Cazuza, que conta com um acervo pessoal que foi mantido por Lucinha. Ali está a escrivaninha utilizada pelo artista, roupas, cama, documentos e objetos pessoais, letras de música, fotos de show e até mesmo a garrafa de seu uísque predileto.

Fora da zona mais central, está a Antiga Estação Ferroviária de Vassouras. Inaugurada em 1875, hoje funciona como a sede de atendimento e apoio ao Turista e do Memorial Ferroviário, além de oferecer um acervo sobre a história da cidade e da antiga companhia de ferrovias.

Foto por Diego Mendes

Instalado em uma chácara, o Museu Casa da Hera, é um dos maiores exemplos de residência da elite cafeicultura do século XIX. Construído em 1830, o palacete pertenceu ao pai de Eufrásia Teixeira Leite, uma das personalidades mais importantes de Vassouras, conhecida por ser a primeira mulher a investir na bolsa de valores.

Entre os destaques do museu está um acervo repleto de peças originais e uma biblioteca com uma incrível coleção de livros, são cerca de mil volumes e três mil periódicos em vários idiomas. A área verde ocupa cerca de 33 mil metros quadrados e nos jardins é possível encontrar árvores nativas, plantas exóticas e um lindo túnel de bambus.

Barra do Piraí

Fazenda Alliança: experiências imersivas e turismo ecológico

Construída pela família Faro em meados do século XIX, a Alliança é um dos mais clássicos exemplos de fazenda cafeicultora. Apesar de não ter sido a sede residencial, foi o sítio mais importante e produtivo e desde aquele período já demonstrava uma preocupação com a sustentabilidade, fato que proporcionou ao Barão do Rio Bonito, um dos reis do café.

Foto por Carolina Berlato

Após a propriedade passar por diversas família, durante quase 200 anos, foi adquirida em 2007, por Maria Josefina Durini, atualmente um dos nomes mais importantes no processo de resgaste histórico, cultural e sustentável do Vale do Café.

Josefina é responsável por todo processo de restauro da fazenda – que reutilizou diversos materiais já existentes na casa – e pelo projeto de sustentabilidade da construção, que envolveu materiais recicláveis e bambu proveniente da propriedade.

Hoje, a Alliança possui 43% de mata Atlântica preservada e ainda conta com um sistema de produção orgânica de leite de búfala, pomar e horta, além, é claro, da produção de café.

Foto por Diego Mendes

A fazenda ainda proporciona turismo de experiência para os visitantes, que podem conhecer toda a área externa da fazenda, o circuito do café, entorno da casa, horta e pomar histórico e no final da visita o visitante tomará um café e degustará um queijo minas de búfala.

Há também um tour especial que leva o turista através de um passeio temático interativo, onde pode experimentar uma releitura do banquete servido a Dom Pedro II em 1888. Quem desejar levar um pouquinho da fazenda para casa pode montar uma cesta de orgânicos e participar do projeto “Colha na horta e pague”.

Valença

Fazenda Campo Alegre: cenário histórico e cheio de charme

Construída na primeira metade do século XVIII, a Fazenda Campo Alegre, é, até hoje, detentora do maior terreiro de café do estado do Rio de Janeiro.

Foto por Diego Mendes

Durante o período áureo, a Campo Alegre foi a principal residência entre as fazendas que pertenciam à família Souza Barros. Em meados de 1870, as plantações já ultrapassavam mais de 150 mil pés. Além do investimento em terras, a família ainda possuía uma residência ultramoderna para a época, com iluminação a gás, linha telefônica, sala de jantar com mesa para mais de 40 convidados, piano, casa de banho e capela. Após passar por uma ampla reforma e por obras de restauro, a fazenda está renovada. A sua bela fachada, composta por mais de 20 janelas, reúne estrutura novíssima em salões decorados com maquinário antigo de café, bar no estilo “pub”, ampla área externa e pequena e uma charmosa capela decorada com afrescos inspirados no período cafeeiro.

Foto por Diego Mendes

As antigas ruínas, hoje são preenchidas por um belo jardim, é um dos pontos favoritos para ensaios fotográficos. A Campo Alegre aluga sua estrutura para casamentos, festas, celebrações empresariais e demais eventos.

Sacra Família

Uaná Etê une música, paisagismo e natureza em um só ambiente

Uaná Etê é um verdadeiro escape natural. Localizado às margens da RJ 121, em Sacra Família, no Rio de Janeiro, o parque ecológico está em uma área de 135.000 m² e conta com um conceito único e inovador: natureza e música se unem em uma proposta de reflexão sobre a arte e conscientização ambiental.

Foto por Diego Mendes

Idealizado por Cristina Braga, musicista, cantora, 1ª harpista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e seu marido, Ricardo Medeiros, compositor, arranjador, contrabaixista solista da Orquestra Sinfônica Nacional, o espaço tem como objetivo proporcionar experiências artísticas em meio a natureza cercada pela Mata Atlântica.

Uaná Etê, que significa “multidão de vagalumes” em língua indígena franca, relembra o acontecimento natural que ocorre nas florestas, quando ao anoitecer milhares de vagalumes se reúnem em uma dança rítmica e iluminada.

Foto por Diego Mendes

O destaque do parque fica por conta do circuito de bosques, jardins, trilhas e gramados para fazer um delicioso piquenique e um delicioso Spa Botânico, que proporciona escalda pés, piscina de lama e massagens em meio a natureza. O parque ainda possui algumas exposições permanentes, entre elas estão:

Labirinto da Música

Foto por Diego Mendes

O primeiro circuito paisagístico totalmente dedicado à música no mundo, que propõe de modo reflexivo e interativo a importância do som como ciência e arte desde a criação do universo. O projeto foi idealizado por Maritza Orleans e Bragança.

Jardim e as Árvores de Cristais

Um espaço criado para a contemplação desses minerais que possuem uma incrível fonte de equilíbrio e harmonia. Ainda há ativadores de chakra para ajudar a entrar na vibração do campo energético corporal e espiritual.

Bosque dos Sinos

Localizado no Cume do parque, o Bosque conta com uma diversidade de sinos de diferentes sons. Experimente todos!

Teias

Imitando teias de aranha, os nós de corda amarrados em árvores foram instalados por Rafael Dias e Cedric Aveline. Deita-se e contemple a floresta e o céu azul.

Caminhos das Acácias

Planejado por Murali Das, mestre de Ioga, o Caminhos das Acácias conta com um percurso de 1,5 quilômetro com diversos exercícios para promover autoconhecimento corporal e benefícios para a saúde.

Orquidário Lenine

Os amantes de orquídeas irão se encantar com esse espaço, que tem como foco uma das maiores famílias de plantas existentes no mundo. Lenine, um dos maiores especialistas em orquídeas, é o patrono do local.

Okas do Jardim

Aprecie o silêncio dentro de uma oka cavada na terra enquanto observa a paisagem natural de Uaná Etê.

Árvore das Infinitas Possibilidades

Termine o passeio na Árvore das Infinitas Possibilidades, ambiente dedicado para fazer desejos, escrevê-los em fitas de cetim e entrelaçá-los em uma linda árvore.

Miguel Pereira

Localizada a cerca de 125 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, no centro-sul fluminense, Miguel Pereira é um delicioso destino de escape e ideal para fazer um bate-volta a partir da capital.

Considerada uma Estância Climática, graças às suas temperaturas amenas durante o ano todo, Miguel Pereira possui o 3º melhor clima do mundo. Rodeada por paisagens montanhosas e atrativos históricos, a cidade ainda conta com diversos pontos turísticos ecológicos, como cachoeiras cristalinas e um lago.

Entre os destaques turísticos do município está o Lago e a Ponte Barão de Javary, espaço tranquilo e cheio de opções para relaxar. O ambiente oferece aos visitantes diversos pedalinhos, passeios a cavalo, charrete, uma ciclovia que circula toda a extensão do lago e quiosques.

Situado em um ambiente descolado as beiras do Lago Javary, o Le Vélo Montagne integra boa gastronomia e paixão pelas bicicletas. Com um conceito totalmente diferente e inovador, o Le Vélo é um projeto idealizado por Cláudia e Daniel Guimarães, que decidiram reunir suas paixões em um espaço singular e surpreendente.

A gastronomia diferenciada é um dos pontos fortes do local, que tem seu cardápio assinado pelos funcionários do restaurante e do próprio Daniel Guimarães e conta com sabores regionais que variam entre frutos do mar e carnes. Para adocicar o paladar, não deixe de experimentar a Cheesecake invertida de goiabada cascão servida na taça, um dos destaques da casa.

Além do Bistrô, o Le Vélo Montagne ainda conta com uma Delicatessen, um Coffee Shop com diversos produtos da região e a Bike Shop Premium, um ambiente totalmente dedicado as bicicletas com produtos de marcas renomadas mundialmente, como Cannondale e Caloi. Ainda há um vestiário especialmente preparado para quem deseja curtir os pedais e trilhas da região, como MTB, Speed e Trail Run.

Texto e foto destaque por: Carolina Berlato