Real Gabinete Português de Leitura

Real Gabinete Real de Leitura – Fotos Nathalia Weber

O Real Gabinete Português de Leitura, encravado no centro da cidade do Rio de Janeiro é, por muitos, desconhecido. Entre suas paredes, a história transpira, tanto pela sua edificação, tanto pelos livros raros que abriga. Tudo começou com imigrantes portugueses, dentre eles o jornalista e advogado José Marcelino Rocha, que se uniram para a criação de uma biblioteca, nos idos 1837. As conversas eram na casa do Dr. Antônio José Coelho Lousada, na então Rua Direita, 20. Com o Brasil, independente há apenas 15 anos, o público desta biblioteca era para os portugueses residentes. Na época, várias associações como esta surgiram,  motivados pela maçonaria e a tendência positivista, principalmente no interior do estado de São Paulo. Estes “gabinetes de leitura” foram, mais tarde, transformados em bibliotecas, muitas delas, municipais.

Para a inauguração foi escolhida a data do tricentenário da morte de Camões, em 1880. O projeto ficou por conta de Rafael da Silva Castro, arquiteto português, cujo estilo manuelino evoca a epopeia camoniana.

No ano de 1900 o Gabinete transformou-se em biblioteca pública e, seis anos mais tarde, o rei de Portugal D. Carlos o renomeia Real Gabinete Português de Leitura.

Um dos destaques é a coleção História da Colonização Portuguesa do Brasil, encomendada pelo Gabinete. A obra, dividida em fascículos e editada pela Litografia Nacional do Porto, chegou a 20 mil de tiragem, inacreditável para a época. Os colaboradores foram: direção literária de Carlos Malheiro Dias; direção artística de Roque Gameiro; direção cartográfica de Conselheiro Ernesto de Vasconcelos; e nomes como Antônio Baião, Duarte Leite, Júlio Dantas, Pedro Azevedo, Paulo Merea, Luciano Pereira da Silva, H. Lopes de Mendonça, Jaime Conceição, entre outros, completaram o elenco.

Na década de 1960, o Gabinete criou o “Centro de Estudos” para conferências e cursos, sendo o primeiro ministrado pelo professor da Universidade da Pensilvânia, Robert Chester Smith, com o tema “Aspectos da Arte Portuguesa do século XVIII”.

Estilo Arquitetônico Neomanuelino

Esse estilo arquitetônico neomanuelino tem origem no estilo manuelino quando da expansão ultramarina portuguesa, impulsionada pelo então rei de Portugal, D. Manuel I, fins do século XV e início do século XVI. A dinâmica das curvas e a robustez das construções eram inspiradas em motivos da flora marítima. Edificações conhecidas como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos, ambos em Lisboa, exemplificam a suntuosidade desse estilo. Somente no século XIX, com o surgimento de um movimento nacionalista, o neomanuelino chegou com força. Em Portugal temos alguns como a Câmara Municipal de Sintra. No Brasil, o Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, o Centro Português de Santos e o Gabinete de Leitura de Salvador nos mostram o vigor desses edifícios.

Biblioteca

Entre a enormidade do acervo de itens bibliográficos, obras raríssimas são encontradas, entre elas: a “Ordenações de Dom Manuel” de Jacob Cromberger, de 1521; o príncipes de “Os Lusíadas” que pertenceu à Companhia de Jesus; os “Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns deles fizeram”, o “Dicionário da Língua Tupy” de Gonçalves Dias, datado de 1539; e manuscritos de “Amor de Perdição”, por Camilo Castelo Branco.

Abriga também a Pinacoteca com obras indescritíveis como “Descoberta do Cabo da Boa Esperança”, autor desconhecido; “Camões em seu leito de morte”, de F. Monteiro, Paris, datado de 1883; “Descobrimento do Brasil” de José Malhôa, 1907; entre outros tantos fabulosos e históricos.

Por sua beleza plástica e importância no cenário cultural brasileiro, o Real Gabinete Português de Leitura é o resultado de uma determinação inconteste de portugueses que escolheram ficar no Brasil, mesmo após a Independência, e fizeram dessa nova terra, um lugar para desenvolver e difundir a cultura, mesmo tão distantes dos centros culturais europeus.

Onde: Rua Luís de Camões, 30 – (21) 2221-3138 – Centro – Rio de Janeiro.