Gran Sabana na Venezuela: um belo lugar para conhecer

Gran Sabana - Odimar López - Cidade&Cultura
Texto e Fotos: Odimar López

Ir para a Gran Sabana é mergulhar em sua surpreendente natureza e se redescobrir na imensidade de suas paisagens. Muitas pessoas têm amado este destino, pela cultura local dos nativos, o meio ambiente repleto de rios e cachoeiras e a diversidade de sua flora e fauna.

Podemos observar os tepuyes por todo o caminho, e respirar uma clorofila brutal, sentindo a essência desta terra antiga e cheia de história. Ao colocar os pés em suas rochas pré-cambrianas e mergulhar em suas águas cor de chá, cheia de taninos, você se sente abençoado. É como se, por um instante, o tempo parasse e suas preocupações desaparecessem.

O Gran Sabana pertence ao Parque Nacional de Canaima, está localizado no estado de Bolivar, com 3 milhões hectares (sendo o 2º maior parque nacional da Venezuela).  Abriga paisagens únicas que fazem você se sentir no tempo dos dinossauros, nos remetendo as histórias do Sir Conan Doyle como “O Mundo Perdido”, entre espécies de vegetais e animais endêmicos da área (espécies que só são encontradas lá).

A Gran Sabana é um “Patrimônio Natural da Humanidade” e sua conservação é de vital importância.  Não só pelo título em si, mas pela relevância de preservar a vasta diversidade biológica que abriga, assim como manter os benefícios ecossistêmicos que traz para a sobrevivência das populações locais e para a saúde de todos os venezuelanos.

Gran Sabana - Odimar López - Cidade&Cultura

A primeira vez que visitei este paraíso terrestre e ancestral foi em 1999, quando eu tinha apenas 9 anos de idade.  Na noite anterior a viagem, estava na minha casa em Maturín e lembro-me da minha inquietude e de como preparei tudo.  E me vesti como uma exploradora: camisa de mangas compridas, jeans, botas, chapéu e mochila.

Eu viajei com meus pais, lembro que fomos em caravana com alguns amigos.  A viagem foi longa, mas pela emoção, pareceu curta para mim. Fiquei acordada durante toda a viagem e quando começamos a subir a Sierra de Lema (uma área de montanhas com tepuis), eu senti frio, já que o clima mudava à medida que íamos subindo. Ainda assim colocava minha mão para fora, pela janela, e agradecia a natureza.

Paramos na Piedra de La Virgen no km 723, um local emblemático.  Estava com meu irmão, o abracei e pedi ao meu pai que tirasse uma foto.   Lembro que minha mãe desligou o som do carro e nos disse para ouvir o som da natureza, sentir e respirar o ar fresco.

Mais tarde no km 760 avistamos a placa de bem-vindo à Gran Sabana.  Minha alma de menina se encheu de alegria e eu me conectei com o lugar imediatamente.  Foi amor à primeira vista, era como se estivesse chegando em casa. Pensei… finalmente cheguei, enfim te conheci.

Fomos direto para as corredeiras dos Kamoirán, lembro-me do frio que fazia, eram 6 horas da tarde.  Naquela noite dormimos em um acampamento de Kamoirán, um lugar de sonho e paisagens deslumbrantes. É um dos lugares muito frequentado, pelos vários serviços que oferecem: posto de gasolina, restaurante de cardápio variado, local para acampar e venda de artesanato.

Fomos informados sobre um atrativo no km 827, uma queda de água de 55 metros de altura, facilmente acessível para carros que não são 4×4. Este local, que é um dos mais visitados, chama-se Kama Merú.  Kama significa “garganta” ou “tragar” (parece mesmo uma!) e Merú significa “salto”.  Ela tem o formato de duas cortinas e, se você tiver sorte, pode apreciar um arco-íris que se forma bem no seu meio. Perfeito para tirar fotos, um verdadeiro cartão postal.  Aqui vivem Cristina e José e eles oferecem alojamento, restaurante e uma grande área para acampar. Na alta temporada você pode encontrar alguns indígenas oferecendo arcos e flechas, zarabatanas, pedras de jaspe e esculturas de caulim.

Gran Sabana - Odimar López - Cidade&Cultura

No dia seguinte saímos para passear pelas cachoeiras, já que quem vai à Gran Sabana tem que banhar-se em uma cachoeira assim que chegar! Meus olhos ficaram hipnotizados e minha boca aberta, pois nunca tinha visto tanta água na minha vida!

Lembro-me de fazer amizade com crianças da região e de dizer para elas: “Wakupero upetoi”, que quer dizer “Como está, minha amiga?” e assim passei a manhã toda brincando com elas.  Ficamos nesta região durante 5 dias, acampados em Pacheco, no km 862.  Lá pude observar ocas indígenas e formações rochosas gigantes e, perguntei ao meu pai o que eram. Ele me explicou que eram Tepuyes e o que estava a minha frente era o Monte Roraima. Esta cena ficará guardada para toda a de minha vida, um momento mágico!  Naquele instante falei para meu pai que, algum dia, eu o subiria.

Daquele ponto pode-se ver toda a cadeia oriental de tepuyes: Ilú, Triamen, Karaurin, Wadaka, Yuruaní, Kukenan e Roraima, os guardiões da Gran Sabana.

Levava comigo um pequeno caderno onde fazia anotações para não me esquecer dos nomes e lugares que estava visitando.

Seguimos para San Francisco de Yuruani, uma comunidade Pemón, onde há opções de hospedagem.  Uma opção é o “Kumarakapay Lodge”, onde Héctor Fernandez oferece todas as refeições, sendo que no almoço há opção pronta de frango assado com arroz e salada.

No km 898 fica a famosa Quebrada de Jaspe (Kako Paru), que significa Pedra de Fogo.  O lugar mais icônico da Gran Sabana, único por conta da cor da pedra de jaspe, entre vermelha e amarela, por onde escorrem as cachoeiras, que fazem uma massagem relaxante nas costas. É bom visitá-la perto das 11:00 da manhã, quando a luz do sol ilumina as pedras.

A água estava congelando e lembro-me de meu irmão gritando que água estava “fria como numa geladeira”, mas eu estava gostando tanto que insistia com meus pais para ficar um pouco mais. Um pequeno lembrete: coloquem meias para banhar-se, para evitar escorregar.

Fomos ver o pôr do sol no mirante de Jurassic Park, onde a savana é rodeada por morichales (ecossistema típico das planícies) e serviu como pano de fundo para o famoso filme dirigido por Spielberg. Palco para respirar profundamente, refletir, meditar e conectar com seu interior.

Esta viagem foi as melhores férias que eu já tive e eu prometi que voltaria todos os anos.  E hoje aqui estou!  Mudei-me, moro em Santa Elena de Uairén e sou guia turística de La Gran Sabana.  Nas próximas edições desta coluna eu descreverei outras atrações para continuarmos essa viagem.

Lembrem que cuidar da natureza, é nos cuidar e das nossas gerações futuras, e que ninguém melhor que nós mesmos para cumprir esta função.

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Post escrito por Odimar López – La Niña del Tepuy
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