folclore

Festival de Parintins – a maior ópera a céu aberto do mundo

Foto: Alexey kurilenko

Parintins é uma cidade localizada a 390 quilômetros em linha reta de Manaus, uma ilha fluvial que faz parte do arquipélago da mundurukania, uma área de terras indígenas. A cidade é acessada por via aérea, com vôos regulares que saem de Manaus com uma duração média de 40 minutos, ou pela via fluvial, que é a mais utilizada e conhecida pelo povo Parintinense, que não dispensa uma boa soneca ao embalo do banzeiro (ondas causadas pela pororoca ou por outra razão) e a passagem por lindas e diversas paisagens amazônicas.

Foto: Oliver kornblihtt

Festival de Parintins

Parintins é conhecida por sediar uma das maiores festas folclóricas do Brasil, o festival de Parintins, que acontece todos os anos, sempre no último final de semana de Junho. A ilha Tupinambarana (nome pela qual a cidade ficou conhecida) é a terra dos bois Garantido e Caprichos.  O primeiro é o boi branco com o coração na cabeça e o segundo é o boi preto com a estrela na cabeça. Todos os anos o festival de Parintins atrai uma multidão de visitantes que vem prestigiar o duelo de três noites entre os bois.  E é nessa hora que o imaginário do caboclo parintinense vem a tona, alegorias tomam forma, ganham vida e se movimentam num ritmo cadenciado juntamente com a apresentação das toadas, música acompanhada por 400 ritmistas, que fazem alusão a preservação da floresta e a manutenção da cultura amazônica e suas tradições.

O Festival de Parintins é, com certeza, uma opera a céu aberto, onde o caboclo amazonense pode mostrar um pouco de sua engenhosidade e de sua sabedoria milenar. Nas apresentações são retratados mitos e lendas amazônicos, rituais indígenas e ainda a miscigenação entre o indígena, o negro e o europeu, que resultou nessa gente que é sem dúvida muito hospitaleira e sorridente.

Foto: Oliver kornblihtt

A lenda do Boi-bumbá

Uma lenda sobre a morte e ressurreição de um boi é a inspiração desta dança que é uma das mais folclóricas da cultura popular brasileira. Conta-nos a história, que em uma fazenda de criação de gado, às margens do rio São Francisco, um casal de escravos, Mãe Catirina e Pai Francisco, passaram pela seguinte situação: ela grávida e com desejos, pede ao marido um prato com língua de boi. Ansioso por atender o desejo da esposa, Francisco escolhe um boi saudável da fazenda e agracia Catirina, dando os restos do boi para outros escravos. E assim, só sobrou o par de chifres e o rabo, dispensados por todos.

O dono da fazenda ao saber da morte do boi (seu preferido e trazido do Egito),  procura furiosamente pelo casal que, temendo represálias, já havia fugido daquelas bandas.

Com o tempo e o crescimento do filho, a criança ao saber da história convence os pais a retornarem a fazenda para pedirem perdão e chegando lá, para a surpresa de todos, a criança ressuscita o animal com três sopros fortes em seu rabo…

Em outra versão, que muda dependendo da região, o dono da fazenda recorre ao pajé que então faz o boi reviver…  Como dizia um amigo meu sobre lobisomem: “Eu não acredito, mas que existe, existe”.

Foto: Gabriel Mestre

A arte em Parintins

Parintins é também conhecida por ser a cidade com o maior número de artistas por metro quadrado, então os incentivos às crianças para as artes são comuns por lá. Vale a pena visitar a escolinha de artes de cada agremiação, onde as crianças podem aprender um ofício e assim ajudar a manter as raízes do festival de Parintins e a fama da cidade no incentivo a produção artística cultural.
Curiosidades:
– As toadas dos bois recebem versões em CD e DVD e a quantidade de unidades vendidas é mais um motivo de disputa entre os admiradores.
– Campanhas políticas da região se utilizam das toadas, em formas de jingles, para animar os eleitores.
– O festival de Parintins tem reconhecimento mundial como um dos eventos folclóricos mais relevantes do planeta e a rivalidade entre as torcidas dos bois só encontra paralelo no país nos eventos futebolísticos.
– As apresentações diárias são de duas horas e meia para cada boi e a ordem de entrada na arena se alterna nos dias do evento.
– Servem de inspiração para as toadas, as lendas e histórias do passado, assim como os sons da floresta, incluindo é claro, o canto dos pássaros.
– São 21 quesitos que são avaliados pelos jurados: apresentador; levantador de toadas; marujada e batucada; ritual; porta-estandarte; amo do boi; sinhazinha da fazenda; rainha do folclore; cunhã poranga; boi bumbá (evolução); toada (letra e música); pajé; tribos indígenas; tuxauas; figuras típicas regionais; alegorias; lenda amazônica; vaqueirada; galera; coreografia e organização do conjunto folclórico.
– Na apresentação do boi concorrente a torcida fica em absoluto silêncio apenas contemplando a animação da torcida rival. O desempenho das torcidas também é julgado.
– Os jurados, no total de seis, são escolhidos na noite anterior e são estudiosos da cultura provenientes de outros Estados do país.
Rodolpho Leite, é colunista do portal cidadeecultura e proprietário da Amazon Destinations Turismo, operadora de turismo da região.
Rodolpho Leite

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