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A procissão das almas: lenda e tradição

Foto Ane Souz

“Eu agradeço se você acredita
Nas santas almas benditas
Eu agradeço se você acredita
Nas santas almas benditas”.
[Santas Almas Benditas – Samba de Leci Brandão].

Meus amigos é Quaresma outra vez! Escrevo esse texto de madrugada, que é pra combinar com o enredo, e com a minha insônia. A história de hoje não é bem uma história… é também uma tradição da cidade mineira de Mariana, em anos não-pandêmicos.

Os mortos são cultuados de maneiras distintas, nas diversas culturas. Mas acredito que a curiosidade sobre a vida após a morte e a possível comunicação dessas almas com os seres viventes, permeia a todas. No núcleo histórico de Mariana, a quatro décadas, acontece na Sexta-Feira Santa, à meia noite, a procissão das almas. Esta é uma mobilização popular de resgate à uma iniciativa secular. As primeiras edições dessa procissão ocorreram ainda no período do Brasil colônia e sua origem é incerta. Acredita-se que foi criada pelos marianenses, como forma de satirizar a poderosa e rica Igreja Católica, com um cortejo organizado aos moldes das procissões católicas, mas com ares pagãos, visto que o Catolicismo não acredita em vida após a morte. Essa tradição se perdeu por muitos anos, e foi resgatada na década de 70 por um grupo de moradores da cidade histórica.

Para os católicos, a sexta feira da Paixão, é um dia especialmente triste e que demanda muitas orações e reflexões, visto que é o dia em que Jesus Cristo morreu, para redimir os pecados de todos. Por esse motivo, é possível imaginar o impacto cultural deste evento, para celebrar os mortos e a própria morte, exatamente neste dia.

A procissão percorre as ruas do centro histórico de Mariana, pela madrugada. Os participantes vestem túnicas brancas com capuzes, levam velas acesas, alguns levam caveiras nas mãos, e entoam urros fantasmagóricos e cantos fúnebres durante o percurso. Até a própria morte participa! Caracterizada com tudo o que tem direito… foice comprida na mão, face escondida pelo capuz longo e preto, tudo como manda o figurino. Matracas e correntes de ferro arrastadas pelo calçamento de pé de moleque, dão um toque fúnebre adicional ao cenário.

Em se tratando de Minas Gerais, como não podia deixar de ser, sempre há um “causo” ou uma lenda associada a uma tradição, seja ela nova ou antiga.

A oralidade nos conta que, no passado, a procissão das almas era realizada pelas… almas. Exatamente. A procissão que ocorre hoje, seria na verdade, uma reprodução do cortejo feito pelos espíritos atormentados e desencarnados. Esse cortejo, que era ouvido pelas ruas da cidade, não poderia ser visto, em hipótese alguma pelos vivos. Caso algum curioso, durante o cortejo espiasse pela janela para ver o que estava acontecendo, receberia um “presente” das almas: uma vela que ficaria acesa por muitos dias, até virar um osso humano. Diz a lenda que, a procissão das almas (a original) acontece quando sentimos um vento frio, um arrepio, e um cheiro forte de vela queimada. Quando sentirem isso, é pra se trancar dentro de casa e não olhar lá pra fora, por nada nesse mundo! Caso contrário, reza a lenda, o curioso será atormentado pelas visões da procissão das almas, até a sua morte.

Lendas à parte, que as santas almas benditas nos protejam e nos guardem, como no samba interpretado por Leci Brandão!

Vivenciando a Procissão das Almas, em Mariana – MG

Sobre a possível Origem da Procissão das Almas e suas versões

Emiliana Fonseca

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