Espetáculo é apresentado em 05 comunidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste
Um homem negro, “devidamente trajado”, monta seu tabuleiro de baiana, bate a massa do acarajé e frita os bolinhos, oferecendo, junto à comida, suas histórias, sua dança, seus afetos. Essa é a performance do artista baiano Fábio Osório Monteiro, intitulada Bola de Fogo, que percorre quilombos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Entre os dias 15 e 19 de outubro, o espetáculo de dança chega ao Quilombo João Borges Vieira, localizado no município de Uruaçu, em Goiás.
Enquanto cozinha, Fábio compartilha com a plateia uma narrativa rica que mescla mitos e itãs de origem africana com episódios de sua própria vida. Para ele, o projeto “Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos”, vai além da performance e da gastronomia, unindo arte e ancestralidade Brasil afora. “Com o Circuito de Fogo, não só a performance, mas toda a equipe, mergulha num processo de aquilombamento. Nesta circulação, percebemos que as camadas sociopolíticas que atravessam Bola de Fogo, ganham materialidade a cada comunidade quilombola visitada”, afirma Fábio Osório Monteiro, performer e coordenador geral do projeto.
Uma das cinco comunidades tradicionais que recebem o projeto Circuito de Fogo, o Quilombo João Borges Vieira tem hoje mais de 700 famílias. Para Raiane Gouveia, liderança quilombo, a realização do projeto traz o fortalecimento para além da identidade cultural. “Acredito que o projeto pode promover diversidade cultural, intercâmbio de experiências e desenvolvimento socioeconômico para nossa comunidade. Traz um resgate histórico de grupos marginalizados e a reafirmação da pluralidade dos quilombos brasileiros”.
Quando foi criado em 2017, Bola de Fogo era um espetáculo de dança encenado em largos e praças por um homem negro, gay, nordestino, candomblecista e artista, vestido de baiana de acarajé, Patrimônio Imaterial do Brasil. Durante esse processo, Fábio Osório Monteiro, o artista, e o seu público interagem e comem o acarajé feito durante a apresentação.
Em cena, Fábio partilha o espaço com a performance em libras guiada por Cíntia Santos. As Libras, em Bola de Fogo, não são utilizadas apenas como tradução do português para a inclusão da população surda. Mas, transforma a oralidade, meio pelo qual a cultura afro-brasileira e as religiões de matrizes africanas se perpetuou ao longo do tempo, em dança, em movimento que através dos sinais já trazem significados em si.
Além da apresentação da performance, o Circuito de Fogo também realiza atividades nos quilombos, relacionadas à ativismo quilombola, cartografia social, eco-cultivo e sustentabilidade, com troca de saberes e experiências entre a equipe do projeto e os fazedores e fazedoras locais de cultura. Rejane Rodrigues, liderança do Quilombo Quingoma (BA), faz parte da equipe do Circuito de Fogo e é quem também articula as atividades, onde cada uma é pensada junto com a comunidade. “Por meio da educação popular e da pedagogia quilombola, buscamos fomentar ferramentas que fortaleçam esse movimento ancestral, promovendo autonomia, consciência crítica e valorização dos saberes locais.”
O espetáculo Bola de Fogo foi apresentado em diferentes espaços da cidade de Avignon (França), em oito apresentações, integrando a 59ª edição do Festival Off Avignon, no contexto do Ano Cultural Brasil-França, em julho deste ano. Logo após, a performance passou a integrar o Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos, quando iniciou suas atividades no Quilombo do Rosário, no município de Salvaterra, na região do Marajó, no estado do Pará, entre os dias 29/07 a 03/08. A comunidade foi reconhecida como remanescente de quilombo no ano passado pelo INCRA e conta com 80 famílias.
“Para nós, enquanto coletivo, foi uma experiência riquíssima. Nós estamos lutando a quase 20 anos e quando vem pessoas de fora, que entendem a nossa luta, é de grande relevância para o nosso território. A gente entende a importância de valorizar a nossa cultura, a nossa identidade. Enquanto quilombola, eu fico muito feliz com a vinda de Bola de Fogo para o nosso território, porque a mensagem que fica é que nós podemos, sim, continuar o nosso trabalho sem ter medo da repressão e, sim, dizer para a mídia, pro mundo, que nós somos pessoas e merecemos ser respeitadas”, destaca Elieide Sousa, liderança quilombola do Quilombo do Rosário.
Após as apresentações no Quilombo João Borges Vieira, em Goiás, o projeto Circuito de Fogo segue para a Comunidade Ribeirinha da Boa Esperança, no Piauí, nos dias 29/10 a 02/11; para o Quilombo Muquém Serra da Barriga, em Alagoas, nos dias 12 a 16/11; encerrando no Quilombo Quingoma, na Bahia, nos dias 10 a 14/12.
O Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos é realizado pela ÚLTIMA Plataforma e Zóio de Jabuticaba, com direção geral e performance de Fábio Osório Monteiro, direção de produção de Gabriel Pedreira, mediação quilombola feita pela liderança Rejane Rodrigues (Quilombo Quingoma).
“Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos” integra a programação do Circuito Funarte de Dança Klauss Vianna 2023, parte do Programa Funarte de Difusão Nacional, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
Texto por agência e edição de Rebeca Dias
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