Sao Paulo Cultura

História de São Paulo: a importância dos Bandeirantes

Gravura representando bandeirantes às margens do Rio Tietê (século XVIII)

Surgimento dos Bandeirantes

Os paulistanos eram gente rústica e brava, que diariamente lutava por comida e enfrentava índios. A Vila era pobre, tão pobre que certa vez, em 1620, o ouvidor-geral da Repartição Sul, o senhor Amâncio Rebelo Coelho, chegou para inspeção com a intenção de pernoitar. A questão era onde e em qual cama? Afinal, ele era uma autoridade e todos dormiam em redes, como os índios. Acharam um leito, pertencente a Gonçalo Pires, que quase foi preso pela Câmara, que invocou, pelo direito do rei, que um súdito obedecesse à ordem.  Após o fim da ilustre visita, Gonçalo entrou com uma ação contra a Câmara por perdas e danos.  Mas o que mais chamou a atenção foi a insubordinação perante as ordens da Coroa.

Já no litoral, as cidades imitavam o estilo europeu, mesmo que precariamente. Nessa região, os habitantes em sua maioria eram mamelucos, e os hábitos indígenas dominavam o cotidiano. Foi nesse contexto de agudo isolamento e certo abandono que surgiu a figura do bandeirante.

Os bandeirantes eram figuras rústicas que, no início, começaram desbravando o interior do país com a intenção de caçar índios. Suas terras eram vastas, porém improdutivas por falta de mão de obra, portanto não valiam nada. Em Vida e morte do bandeirante, de Alcântara Machado, nos inventários por ele realizados, fica clara a discrepância de valores entre um vestido de veludo e um bairro inteiro, como o Morumbi. O vestido valia cem vezes mais; um cadeado de ferro com chave tinha mais valor do que toda a Zona Sul. Na época, não havia manufaturas; tudo era importado e o custo era alto, muito alto. Então, os índios cativos eram a chave da produção agrícola. E lógico que, nessas incursões pelo sertão à procura de ouro, enriquecer estava nos anseios de todos.

Formação organizada

O “pai” das bandeiras foi um grande entusiasta da exploração do interior do país, D. Francisco de Sousa, sétimo governador-geral do Brasil, que vislumbrou em São Paulo um ponto estratégico de partida. Foi ele que conferiu às bandeiras uma formação organizada hierarquicamente, com cunho militar. O interesse e a disposição dos habitantes aumentavam sua sede por novos horizontes; é quando surgem novas lideranças na Vila e nas empreitadas, a exemplo de Antônio Raposo Tavares.

A caça incessante aos índios se desenrolava sob a oposição ferrenha dos jesuítas, que protegiam os gentios. Em vão, pois as bandeiram chegaram ao Paraná e a Santa Catarina, ao Rio Grande do Sul, à Argentina e ao Paraguai, ao Mato Grosso do Sul e a Goiás. Somente com a mão de obra indígena é que Piratininga poderia sobreviver, criando gado e cultivando feijão, mandioca e o principal produto agrícola da região naquele século XVI: o trigo. O cereal era exportado e assim elevava consideravelmente o erário da Vila. Com o dinheiro do trigo, novas culturas foram introduzidas, como a cana-de-açúcar.

Pela primeira vez, São Paulo conseguia prosperar e sair do anonimato, recebendo sesmarias que oficializavam terras e donos, entre elas a do Ipiranga e de Pinheiros. Nesse ínterim, os jesuítas formaram “aldeamentos”, locais para catequizar e aclimatar os índios capturados. Cidades como Barueri e Guarulhos, em seus primórdios, eram locais desse tipo. Esses aldeamentos na verdade não eram bem aceitos pelos bandeirantes que precisavam pedir autorização aos jesuítas para levar os índios para a lavoura. Isso gerou grande tensão entre as partes, culminando na expulsão dos religiosos das terras do planalto, em 1640. A atividade de captura de índios era ilegal e, mais uma vez, a insubordinação dos paulistanos foi motivo de grande dor de cabeça para o governador-geral.

Busca do metal precioso

Em 1690, foi encontrada a primeira mina de ouro na atual cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Lugar que, em 1674, Fernão Dias Pais tinha desbravado. Mais tarde, personagens como Borba Gato, Manuel Preto, Domingos Jorge Velho, José Ortiz de Camargo, Pedro Vaz de Barros, entre tantos outros, mudaram os rumos da economia brasileira através de suas intrépidas viagens, tornando o Brasil, pela primeira vez, um grande atrativo para os europeus. Decorreu uma corrida desenfreada em busca do metal precioso, acelerando o desenvolvimento do interior, onde cidades foram estabelecidas, estradas foram abertas e o comércio interno cresceu muito.

Mas, para a Vila de São Paulo de Piratininga, pouco mudou necessariamente; se mudou, foi para pior, pois uma praga nessa mesma época atacou os campos de trigo, fazendo com que seu principal produto ficasse arruinado. Ainda não seria dessa vez que São Paulo iria florescer. Não foi o ouro descoberto por seus habitantes que fez São Paulo ser o que é hoje.

Bandeirantismo

Casa do Bandeirante

Divulgação

Um dos raríssimos exemplares da arquitetura rural paulista do século XVII, a Casa do Bandeirante está localizada estrategicamente na confluência dos rios Pinheiros e Tietê, local que, na época, era a zona periférica da Vila de Piratininga. Construída em taipa de pilão, é datada de 1566 e pertenceu a Afonso Sardinha. Hoje, abriga peças de época oriundas de São Paulo, Minas Gerais e do Vale do Paraíba.  Aberta de terça a domingo das 9h às 17h.

Onde: Praça Monteiro Lobato, s/n – Butantã.

Casa do Sertanista ou do Caxingui

Foto Alf Ribeiro

Datada do século XVII, construída em taipa de pilão, é outro exemplar de casas “bandeiristas”. Segundo pesquisas, o primeiro morador foi o padre Belquior de Pontes. Aberta de terça a domingo das 9h às 17h.

Onde: Praça Doutor Ênio Barbato, s/n – Caxingui.

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Renata Weber Neiva

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