Ferrovias e estações de trem no Circuito das Frutas

Miniatura de Estações de trem no Circuito das Frutas

 

Após o grande boom cafeeiro das volumosas safras nos solos interioranos, o escoamento do café tornou-se a meta principal dos cafeicultores. A produção ia bem, a mão de obra era barata, cada vez mais havia aumento em números significativos de sacas do ouro verde, mas a barreira representada pelo modo de escoamento era o maior obstáculo para realmente haver a venda do café no exterior. O total da produção era transportado em lombo de mulas até o porto de Santos, vencendo uma verdadeira muralha cercada de abismos, assolada por fortes chuvas e todo tipo de doenças causadas pelo clima tropical. Portanto, era fundamental descobrir meios que pudessem acelerar a entrega e o embarque do café.

 

Estrada de Ferro São Paulo Railway

O grande visionário que foi o Barão de Mauá conseguiu a concessão para construir uma ferrovia ligando o porto de Santos à cidade de Jundiaí. Porém, sua tarefa não seria fácil, devido às condições topográficas da Serra do Mar, com 800 metros de altura, o que tornaria o empreendimento uma das tarefas de engenharia mais exigentes do país. Após muitos estudos, fundou-se a empresa São Paulo Railway – SPR, em 1859 e, em 1867, a ferrovia foi aberta ao tráfego. A partir desse marco que foi a construção da S. P. Railway, o embarque do café foi acelerado, porém mais estradas de ferro deveriam ser construídas, pois não havia meios de se expandir a S. P. Railway para o interior. Então, com esforços dos próprios fazendeiros, outras estradas de ferro foram construídas para o escoamento mais rápido da produção cafeeira.

 

Cia. Paulista de Estradas de Ferro – Jundiaí/Campinas

A partir de Jundiaí, a Cia. Paulista de Estradas de Ferro abriu mais caminhos na direção de Campinas em 1872. O projeto contou com forte participação do então presidente da Província de São Paulo, Joaquim Saldanha Marinho, que reuniu fazendeiros e empreiteiros dispostos a participar de tal empreendimento. As cidades que compõem o Circuito das Frutas estavam no trajeto dessa ferrovia, a saber, Jundiaí, Vinhedo, Valinhos e Louveira. Algumas dessas estações ainda estão de pé, muitas destinadas a outras funções e algumas no aguardo de revitalização e restauro.

A Estação da Cachoeira, em Vinhedo, era a segunda parada da Cia. Paulista e foi inaugurada em 1872. Dois anos após a inauguração seu nome mudou para Rocinha. Em 1930, o prédio foi reformado e somente a fachada não foi modificada.

Estação Cachoeira, em Vinhedo
Sinalização para motoristas e pedestres

 

 

 

 

 

 

Ituana Estrada de Ferro

Estação Itupeva

Mais clamores, mais resultados. Em 1870, na cidade de Itu, foi decidida a criação de mais trechos de ferrovias para atender aos cafeicultores, interligando Jundiaí e Itu. Mais tarde, em 1892, a Ituana fundiu-se com a Estrada de Ferro Sorocabana, e o nome passou a ser Cia. União Sorocabana e Ituana (CUSI). Em 1919, a CUSI foi arrendada por Percival Faquhar que a renomeou como The Sorocabana Railway Co. Depois de muitas lutas, essa ferrovia conseguiu quebrar o monopólio da São Paulo Railway e levar seus trilhos até Santos, em 1937. Após longo e dificultoso processo, a FEPASA assumiu a Sorocabana em 1971.

A estação Itupeva – Inaugurada em 1873, era a primeira parada da EF Ituana. Foi construída em terras da Fazenda São João da Via Sacra, produtora de café.

 

Estrada de Ferro Bragantina

Em 1872, a Estrada de Ferro Bragantina iniciava em Campo Limpo Paulista e seguia até Bragança Paulista. Foi concluída em 1884 à base de pás e picaretas. Em 1903, os ingleses compraram a Bragantina para evitar que a Estrada de Ferro Mogiana abrisse um trecho em Amparo que escoaria o café até o porto da cidade de São Sebastião. Para tanto, o novo trecho teria de passar obrigatoriamente por Atibaia, esbarrando na Bragantina. Então, para manter o monopólio do transporte do café, a SPR adquiriu a Bragantina e estendeu-a até Vargem. Também construiu um tronco no bairro Caetetuba, de Atibaia até Piracaia.

Estrada de Ferro Itatibense

Inaugurada em 1889, a Cia. Itatibense foi o resultado de um grande esforço levado adiante pelos fazendeiros de café que, desde a década de 1870, lutavam pela sua construção. Com 21 km de extensão, passava pelas estações Tapera Grande, Abadia e Luiz Gonzaga até o entroncamento com a Estação de Louveira da Cia. Paulista. Esse trajeto era vencido em cerca de 1h30, seja com trens de passageiros ou de cargas – café, principalmente. Apesar de desativada em 1952, até hoje os trens da “Itatibense” são lembrados pela população.

Equipamento de Staff, fabricado por The Railway Signal Co. Ltda.
Vagão para transporte de animais – Museu Ferroviário de Jundiaí

 

 

 

 

 

As estradas de ferro deixam saudade de um tempo que se foi com suas inúmeras histórias e causos. Saudade dos trilhos, do som do apito do trem, da aventura, dos relógios que marcavam os destinos, dos abraços e dos beijos, da melancolia e da alegria das partidas e das chegadas, das riquezas da lavoura, da acolhida dos imigrantes, das notícias do mundo e, principalmente, da capacidade humana de desbravamento, erguendo construções em locais insólitos e inóspitos. As ferrovias marcaram a época do encurtamento das distâncias e suas linhas retrataram as peculiaridades dos habitantes interioranos.

 

MEMÓRIAS

  • A Estação Jundiaí foi aberta em 1898, um pouco distante da instalada pela São Paulo Railway.
  • Estação Valinhos Velha – O prédio atual foi erguido em 1910.
  • Estação Valinhos – Terceira parada da Cia. Paulista. O prédio atual foi construído no final do século XIX e reformado em 1913. Depois da desativação da ferrovia, o local tornou-se o Museu de Valinhos Haroldo Angelo Pazzinatto.
  • Estação Louveira – Inaugurada em 1872 com o nome de Capivari, era a primeira parada do trecho da Cia. Paulista Jundiaí/Campinas. Em 1890, o prédio foi demolido e construiu-se um maior para abrigar a plataforma da Estrada de Ferro Itatibense.
  • Estação do Tanque, Atibaia; inaugurada em 1884.
  • Estação Luiz Gonzaga – Construída em 1889. Serviu de meio de transporte para os moradores do povoado de mesmo nome: Luiz Gonzaga.

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