A Mantiqueira paulista e a revolução de 32

Armazém da fábrica de pólvora Sem Fumaça - Piquete/SP
Armazém da fábrica de pólvora Sem Fumaça – Piquete/SP

Revolução de 32

Com a força econômica brasileira baseada no café produzido no Estado de São Paulo e no leite vindo de Minas Gerais, a política se tornou palco para o domínio de presidentes de ambos os estados que se alternavam no poder. Em 1929, essa regra foi quebrada com a nomeação do paulista Júlio Prestes à presidência quando deveria ser a vez de um mineiro. Com isso, Minas Gerais buscou apoio dos gaúchos e incentivou Getúlio Vargas.

Caso Júlio Prestes fosse eleito em 1º de março de 1930, haveria uma revolução por parte dos aliados de Vargas. Prestes foi eleito à presidência do Brasil pelo Partido Republicano Paulista (PRP).  Isso desencadeou o golpe liderado por gaúchos, mineiros e paraibanos antes da posse do novo presidente, depondo Washington Luís e passando o poder a Getúlio Vargas. Este imediatamente montou um “Governo Provisório”, suspendeu a Constituição, nomeou interventores para os Estados, dissolveu o Congresso nacional e as Câmaras estaduais e municipais, e impôs ao país uma ditadura fechada e totalmente centralizada. Muitos políticos foram exilados; jornais apoiadores de Prestes foram fechados.

Participação das cidades

Em São Paulo, os vários interventores não agradaram os paulistas e, em 25 de janeiro de 1932, na Praça da Sé, houve um comício de enormes proporções exigindo uma nova Constituição e o fim da ditadura Vargas. Em 23 de maio do mesmo ano, cinco jovens foram assassinados (Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa, Antônio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga) por serem a favor dos ideais de nova Constituição.  E foi quando a população tentou invadir a sede da Legião Revolucionária, pró-ditadura. Esse fato resultou no Movimento MMDC. Com o apoio da maçonaria, Pedro de Toledo consegue romper com o Governo Provisório.

Em 9 de julho, acreditando ter apoio dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, São Paulo inicia a marcha para a derrubada de Getúlio Vargas. Quarenta mil paulistas contra cem mil soldados. Os constitucionalistas lutaram bravamente com o que tinham. Resultado de campanhas feitas por todo o Estado e, mesmo com seu porto bloqueado, muito se conseguiu com a união de todos.

Sopé do Morro do Elefante - Campos do Jordão/SP
Sopé do Morro do Elefante – Campos do Jordão/SP

A estratégia de São Paulo era chegar até a cidade do Rio de Janeiro (então capital federal) via vale do Paraíba com o apoio de retaguarda de Minas, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Porém, as tentativas de revolta em Minas e Mato Grosso frustraram-se e seus líderes foram presos e exilados. O Rio Grande do Sul decidiu de última hora apoiar Vargas. São Paulo estava sozinho e sob cerco militar.  Mas os paulistas lutaram e fabricaram novas armas, como a matraca que imitava o som de uma metralhadora, até alcançarem o trem blindado do vale do Paraíba. Todos lutaram direta ou indiretamente, cidades foram bombardeadas pelos “vermelhinhos” — os aviões federais –, muitos morreram. Em 2 de outubro de 1932, São Paulo foi derrotado.

Soldado Paulo de Almeida - Estação E. RIbas
Soldado Paulo de Almeida – Estação E. RIbas

Cidades da Serra da Mantiqueira

Esse episódio, que foi a última luta armada em território brasileiro, deixou marcas profundas nos municípios do Circuito Mantiqueira. A região, como ponto de fronteira, teve em suas terras muitos batalhões e combates com as tropas de Getúlio. Foram situações de espanto e tensão para a população que tentava manter sua rotina ao som de tiros e bombas. Escolas serviram de acampamento para os que nos defendiam . Casas serviam de fabriquetas de uniformes e alimentos aos combatentes. Crianças se admiravam inocentes com as rajadas de metralhadores na escuridão da noite.

Na cidade de Piquete, por exemplo, a fábrica de pólvora sem fumaça foi dominada pelos federalistas. Campos do Jordão se tornou base fronteiriça.

São Bento do Sapucaí ainda guarda algumas marcas no solo, como a trincheira do Quilombo e Museu.  No museu há registros como: “Um fato impressionante de São Bento do Sapucaí foi que a cidade levou mais tempo do que outras para ser avisada de que a guerra havia chegado ao fim. Houve inclusive uma batalha travada contra soldados mineiros depois do fim da guerra, por pura falta de informação…”.

Em Pindamonhangaba, a presença do tenente-coronel Júlio Marcondes Salgado com seus feitos heroicos é até hoje lembrada.

De Monteiro Lobato, o próprio escritor foi considerado na época um dos grandes intelectuais brasileiros que colaborou com fervor com a causa paulista.

Na maioria das cidades da região da Mantiqueira temos um monumento ou um espaço dedicado à Revolução Constitucionalista de 1932. Apesar de termos perdido várias batalhas, não perdemos a guerra, pois, em 1934, foi promulgada a nova Constituição.

 

 

Museu da Revolução de 32 - São Bento do Sapucaí/SP
Museu da Revolução de 32 – São Bento do Sapucaí/SP

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